Educação e Discipulado

Postado por Anônimo terça-feira, 1 de junho de 2010 , , , , , , ,



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O presente texto tem como base a leitura do livro Pedagogia da autonomia – saberes necessários à prática educativa, de Paulo FREIRE, Editora Paz e Terra (Coleção Leitura), 1998 (7ª edição). As observações que temos aqui são fruto da leitura do livro indicado, unindo a idéia com a realidade do discipulado, algo que deve fazer parte da prática cristã, mas que vai além das fronteiras do cristianismo, pois discipular é acompanhar, orientar, testemunhar, compartilhar, enfim, é educar e ser educado. Assim, nossa Bibliografia já fica citada: O livro de Paulo Freire acima citado e nossas observações sobre discipulado, já parte de outro texto neste site (para ler o texto citado, clique aqui).

Com isso em mente, passamos para o comentário de alguns trechos do livro, que entendemos importantes para pensar a prática educativa através do discipulado na caminhada cristã:

(...) “a questão da inconclusão do ser humano, de sua inserção num permanente movimento de procura, que rediscuto a curiosidade ingênua e crítica, virando epistemológica. É nesse sentido que reinsisto em que formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas, e por que não dizer também da quase obstinação com que falo de meu interesse por tudo o que diz respeito aos homens e às mulheres, assunto de que saio e a que volto com o gosto de quem a ele se dá pela primeira vez.” (p. 15):

Aqui vemos a realidade da necessidade de uma busca constante de aprimoramento. Não podemos limitar o processo educativo a apenas passagens de conteúdos durante uma época da vida. É preciso que estejamos em constante busca de conhecimento em uma área específica, mesmo que tenhamos todas as graduações e pós-graduações em determinado assunto. Não podemos esgotar um conhecimento de forma completa. Ele terá que ser sempre aprimorado. Esse processo de continuidade é praticado na comunidade cristã através do discipulado.

- “A ideologia fatalista, imobilizante, que anima o discurso neoliberal anda solto no mundo. Com ares de pós-modernidade contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa a ser ou a virar ‘quase natural’. Frases como ‘a realidade é assim mesmo, que podemos fazer?’ ou ‘o desemprego no mundo é uma fatalidade do fim do século’, expressam bem o fatalismo desta ideologia e sua indiscutível vontade imobilizadora. Do ponto de vista de tal ideologia, só há uma saída para a prática educativa: adaptar o educando a esta realidade que não pode ser mudada. O de que se precisa, por isso mesmo, é o treino técnico indispensável à adaptação do educando, à sua sobrevivência.” (p. 22):

Diante da realidade do pensamento que domina quase que completamente a humanidade, o pessimismo, a educação deve surgir como algo que suplante essa realidade. A partir disso, passa a dar ‘ferramentas’ necessárias ao educando para enfrentar a realidade, nua e crua. E na vida cristã, não deixamos de enfrentar dificuldades ou provações. Logo, é necessário ter a “casa edificada” da forma certa para não “cair em tempestades” que acontecem, quer dizer, ter fundamento espiritual e racional suficiente para enfrentar as dificuldades, sem perder o foco da busca do Senhor (Mateus 7.24-27).

- “A reflexão crítica sobre a prática se torna uma exigência da relação Teoria/Prática sem a qual a teoria pode ir virando blablablá e a prática, ativismo.” (p. 24):

Não podemos desvincular a Teoria da Prática, senão não terá razão de ser a educação para algo ou o discipulado cristão. Não adianta nada estudar certo conteúdo apenas por estudar, conhecer a Bíblia inteira e citar muitas partes, quer literalmente ou o seu contexto e explicação. É claro que no ensino básico muito é estudado sem se ter conexão com a realidade prática a ser observada na vida. Mas é durante o ensino básico que temos a oportunidade de vislumbrarmos por qual caminho iremos trilhar, uma vez que um leque de muitas opções se abre e podemos definir uma área de atuação. Diferentemente do ensino Bíblico, onde cada parte terá seu lugar de importância, mas não será nada se apenas aprendido e não vivido.

-“É preciso que o formando, desde o princípio mesmo de sua experiência formadora, assumindo-se como sujeito também da produção do saber, se convença definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua produção ou a sua construção.” (p. 24-25):

Muitas vezes quando nos achamos na situação de aprendizes, quer nos estudos seculares ou no discipulado cristão, nos colocamos como quem vai receber determinado conteúdo que o “ensinante” irá transmitir. É necessário, para que haja um real aprendizado, que ambas as partes se auxiliem, compartilhando experiências, necessidades, sonhos, visões e entendimentos. Com isso, o aprendiz/discípulo tem um papel importante, não meramente aprendiz, mas alguém que participa diretamente do aprendizado. Afinal, a experiência vivida pode permitir noções de exemplos que confirmem ou neguem conteúdos.

-“É preciso que, pelo contrário, desde os começos do processo, vá ficando cada vez mais claro que, embora diferentes entre si, quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado.” (p.25):

Aqui fica claro que o processo de educação/discipulado não se limita a uma pessoa ensinado e outra aprendendo. Vemos claramente que esse processo se trata de uma interação de ambos os participantes do processo. Isso fica mais latente no discipulado, onde o compartilhar de experiências é algo muito importante no processo.

-“Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram que era possível ensinar.” (p.26):

Vemos mais uma vez a interação de ambas as práticas no processo de educação. Uma não pode ser sem a outra. O educador não o é sem o educando, e só é educador na medida que aprende com o educando. No discipulado, a interação é real! Não há um detentor do saber absoluto e alguém que só irá “sugar” conhecimento. O processo só pode ser real se houver acompanhamento e compartilhar de experiências. Claro que o discipulador é o responsável pela estrutura do estudo, mas o conhecimento é passado e adquirido com a interação, com o compartilhar.

-“Aprender precedeu ensinar ou, em outras palavras, ensinar se diluía na experiência realmente fundante do aprender.” (p. 26):

Muitas vezes parece que o educador/discipulador é mais importante que o educando/discipulo no processo de educação, pelo menos no que diz respeito ao fator ensino, passar conhecimento. Mas isso não é verdade. Por mais que o educador/discipulador já tenha mais conhecimentos na área, o educando/discípulo tem um papel importante. Ambos interagem. A necessidade de aprender é algo básico no ser humano, independente do grau de graduação. Aparentemente, aprender é mais nobre que ensinar, uma vez que o ensino só acontece com uma interação de conhecimentos e realidades.

-“Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.” (p.32):

Quanto mais nos preocuparmos em nos aprimorar, mais vamos ensinar/aprender. Mesmo que aparentemente não vá ser útil, uma pesquisa pressupõe aprendizado. Só pesquisando é que poderei ajudar a aprimorar e me ajudar a aprimorar. Não posso achar que já sei tudo.

-“Saber que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção.” (p. 52):

Não podemos aceitar que educar/discipular seja apenas passar o conhecimento que já temos para outrem. Precisamos entender que a educação/discipulado envolve essa passagem de conhecimentos, mas abrange mais que isso apenas: tem que acontecer interação.

-“O educador que, ensinando geografia, ‘castra’ a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, doméstica.” (p. 63):

Mais uma vez vemos que no processo de educação/discipulado não podemos apenas nos limitar a apenas passar conteúdos, senão apenas formaremos um papagaio que irá somente repetir o que ouviu, sem realmente aprender.

Todos esse pontos, entendemos, são relevantes para a educação no nível cristão. Muitas vezes nos sentimos como os donos da verdade e esperamos que os/as outros/as serão apenas aqueles/as que irão ouvir, repetir e ensinar somente o que passamos. Precisamos entender que os/as outros/as são participantes diretos da educação. Precisamos estar, também, em constante “reciclagem” e busca do aprendizado. No processo de educação, tudo não se limita a nada.

Para encerrar, gostaria de insistir no último ponto destacado como enunciado de Paulo Freire (“O educador que, ensinando geografia, ‘castra’ a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tolhe a liberdade do educando, a sua capacidade de aventurar-se. Não forma, doméstica.” - p. 63) que me chama muito a atenção. Na realidade isso não é algo totalmente novo para mim, mas é sempre importante ter em vista isso: Ensinar não é apenas passar o conteúdo sem fazer a outra pessoa pensar; é preciso fazer com que ela tenha o desejo de se aventurar frente aos conteúdos. Quando estamos na Igreja, ou em estudos bíblicos, ou em pregações, atendimento no gabinete, visitas..., muitas vezes somos tentados a apenas passar um conteúdo que já sabemos aos/às eclesianos/as, sem lhes aguçar o desejo de desbravar o horizonte do conhecimento bíblico por conta própria, tendo apenas alguém a lhe orientar. Há outras pessoas que parecem querer apenas ouvir o que fazer ou como é, sem refletir sobre eventos, histórias ou situações. Quando optamos por seguir esse caminho (quer seja por decisão pessoa ou por desejo de outras pessoas – apenas passar o conteúdo), entendemos que já lhes passamos todos os conteúdos e, quando alguém aparece com uma nova forma de ver (uma forma com a qual nunca nos deparamos), podemos até negar que essa pessoa esteja com a razão. Sem contar que muitas vezes entregamos a interpretação pronta, não deixando nada para a pessoa por si só desbravar sozinha.

Precisamos nos preocupar com o real desenvolvimento dos/as nossos/as eclesianos/as. Só assim teremos pessoas realmente preparadas para nos auxiliar na tarefa de espalhar a mensagem do Reino de Deus sobre a face da terra. Precisamos, sim, falar o que sabemos. Mas precisamos ir além disso. Deixar que a pessoa por si só descubra uma chave de interpretação da realidade da mensagem do Senhor, mesmo que seja debaixo de nossa orientação. Não podemos só despejar conhecimentos sem deixar a pessoa pensar sozinha. Precisamos, sim, dar pistas para a interpretação. Pode até ser que existam coisas que não dê para se ter outra interpretação e aí sim iremos dizer tudo o que realmente é e pronto (por exemplo, Jesus Cristo é o único mediador junto ao Pai – não há outro). Mas precisamos aguçar o desejo de conhecimento das pessoas e fazer com que elas procurem saídas, mesmo que com nossa ajuda, mas não sem o direito de pensar por si só.

Que Deus continue abençoando.

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